Resultados da implementação do sistema de resfriamento em vacas

Resultados da implementação do sistema de resfriamento em vacas

21/05/2021 Uncategorized 0

Em um artigo anterior, que tratava de um projeto de resfriamento que acompanhei no norte do México, descrevi os resultados do primeiro e segundo anos de sua implantação.

Os dados foram apresentados de forma limitada, para uma série de fazendas leiteiras pertencentes à cooperativa leiteira “Alpura”, localizadas nas regiões quentes do norte do México e caracterizadas por longos meses de verão, com condições extremas de carga de calor para vacas leiteiras. 

Essas fazendas são principalmente fazendas grandes e de alto desempenho, localizadas em uma área desértica, onde aproximadamente 60% das horas do ano sofrem condições de estresse por calor.

O “projeto de resfriamento” teve início no verão de 2014, primeiro verão da nossa atividade, e definiu-se como um “verão de aprendizagem”, no qual analisamos a melhor forma de operar o resfriamento nas fazendas leiteiras.

Já nos estágios iniciais, tivemos a decisão sobre a “estratégia de resfriamento” para este tipo de fazendas leiteiras, particularmente grandes (entre 1.000 e 3.500 vacas), e com longas sessões de ordenha (todas as fazendas ordenham as vacas 3 vezes ao dia, por cerca de 21 horas por dia).

A ordenha nessas salas é muito rápida e, portanto, o tempo gasto pelas vacas na área de espera antes da ordenha é muito curto e não permite o resfriamento pelo tempo necessário. A solução que propusemos foi construir “áreas especiais de resfriamento”, localizados próximos à área de espera e à sala de ordenha, o que também permitiu às vacas um tempo adicional de resfriamento a cada ordenha (antes e depois da ordenha) como trazer as vacas para serem resfriadas, também entre as sessões de ordenha.

No verão de 2015, iniciamos o resfriamento em um formato que combina resfriamento na área de espera e nas áreas especiais de resfriamento, em cinco galpões dos cooperados. As vacas receberam um “tratamento de resfriamento” de uma hora em torno de cada sessão de ordenha, bem como uma hora de tratamento de resfriamento, aproximadamente quatro horas após o final de cada sessão de ordenha.

No total, as vacas receberam 6 horas acumuladas de resfriamento por dia, onde foram realizados ciclos combinando molhamento e ventilação forçada, uma vez a cada 4 horas, dia e noite.

Neste artigo, optei por apresentar seis anos após o início do projeto, os dados da fazenda leiteira La Cantabra, uma daquelas fazendas onde os princípios de resfriamento descritos acima foram aplicados de forma otimizada. O proprietário da fazenda persistiu em coletar dados e enviá-los para nós até a data.

Sobre a fazenda leiteira La Cantabra

As fotos apresentadas mostram as melhorias realizadas nesta fazenda para diminuir o impacto negativo do estresse térmico do verão, incluindo sombreamento das passarelas de e para a sala de ordenha e a construção de “áreas de resfriamento especiais”, em operação desde o verão de 2015.

São quatro “túneis de resfriamento” adjacentes entre si e equipados com ventiladores de cerca de 2 metros de diâmetro e sistema de aspersão de grandes gotas, operando alternadamente.

Em dois desses túneis, as vacas permaneceram antes e após cada sessão de ordenha, permitindo que as vacas fossem resfriadas (junto com o tratamento de resfriamento dado na área de espera), por uma hora completa de cada vez. Os outros dois túneis eram usados para resfriar as vacas por uma hora de cada vez, entre as sessões de ordenha.

As vacas nesta fazenda eram resfriadas por um total de 6 horas por dia e, para trazer as vacas de e para o local de resfriamento, foram contratados 6 trabalhadores adicionais, trabalhando em três turnos, 24 horas por dia, durante todo o verão.

Os resultados após seis anos de operação do sistema de resfriamento 

Para examinar o efeito do tratamento de resfriamento no desempenho das vacas no verão, calculei a taxa de concepção média por mês de todas as inseminações, bem como a produção média diária por vaca.

Isso foi feito para os quatro anos anteriores à implementação do projeto de resfriamento (2011-2014), comparando-os com os seis anos desde o seu início (2015 – 2020).

Os resultados são apresentados na figura 1, para a taxa de concepção e na figura 3, para a produção de leite, com a figura 2, mostrando a média de “dias em leite” do rebanho nos diferentes meses, para 2014 (ano anterior ao início do projeto) e no final de 2020.

Figura 1 – Taxa média de concepção, de todas as inseminações realizadas nos diferentes meses dos anos 2011-2014 (antes do início do projeto de resfriamento), e nos anos 2015-2020, (onde foi fornecido resfriamento intensivo).

Pelo apresentado na figura 1, pode-se observar uma melhora significativa na taxa de concepção nos meses de verão, após a implantação do resfriamento intensivo. Nos anos anteriores ao início do projeto, a taxa de concepção começou a declinar já em abril e voltou ao nível normal apenas em dezembro.

A taxa de concepção durante este período diminuiu de 40% nas inseminações feitas no inverno, para aproximadamente 15% no verão. Diferentemente, durante o período em que foi implantado o resfriamento intensivo, foi mantida uma taxa de concepção de 30% ou mais, durante todos os meses de verão.

Pelo apresentado na figura 2, pode-se perceber que a melhora na taxa de concepção nos seis anos desde o início do projeto de resfriamento contribuiu para a redução do número médio de “dias no leite”, principalmente nos meses de verão, um significativo fator que causa a melhoria da produção média anual de leite por vaca, conforme mostrado na figura 2.

Figura 2 – Média de “dias no leite” nos diferentes meses dos anos 2011-2014 (antes do início do projeto de resfriamento) e em 2020 (seis anos após o início da implantação do tratamento de resfriamento)

Pelo apresentado na figura 2, percebe-se uma redução significativa no número de “dias em leite”, após cinco anos de resfriamento intensivo das vacas no verão, em decorrência da melhora na fertilidade do verão, ao final do 6º ano de projeto.

Como esperado, a redução do número de “dias no leite” significa que as vacas estão mais próximas da data do parto, o que afeta positivamente a produção das vacas, como de fato pode ser visto na figura 3.

Figura 3 – Produção média de leite por vaca (lit./dia), nos diferentes meses, nos anos 2011-2014 (antes do início do projeto de resfriamento) e nos anos 2015-2020, nos quais foi implantado resfriamento intensivo no verão.

A partir do apresentado na figura 3, observa-se uma redução significativa no grau de queda no verão da produção de leite por vaca, entre o período anterior à implantação do resfriamento intensivo e o período em que foi operado.

A diferença na produção de leite entre inverno e verão, e a relação de produção verão/inverno, entre verão e inverno, em 2014, antes da implantação do resfriamento e em 2020, seis anos após o início de sua implantação, são apresentadas na tabela 1.

Tabela 1 – Diferença entre a produção média diária de leite e a relação da produção média diária de leite, entre o verão e o inverno, em 2014, antes da implantação do projeto de resfriamento e em 2020, seis anos após a sua implantação.

O aspecto econômico

A implantação de sistema de resfriamento implica alto investimento financeiro para instalação e operação do tratamento de resfriamento.

Com base nos dados atuais do México, estimamos que o investimento para a construção dos túneis de resfriamento e do equipamento de resfriamento, semelhantes aos que existem em La Cantabra, com preços atuais, pode chegar a cerca de US $ 400.000 (aproximadamente US $ 150 por vaca).

Assumimos também que o custo de operação do sistema de resfriamento durante o verão deve ser de US$ 45 por vaca, cobrindo eletricidade, mão de obra adicional e despesas de manutenção de equipamento.

Usando um software especial que desenvolvi, examinei o efeito econômico de investir no resfriamento de vacas. Para o cálculo, tomei os resultados reais obtidos na fazenda La Cantabra (um aumento de 10% na produção anual das vacas), assumindo também uma melhora de 5% na eficiência nutricional durante os meses de verão.

O estudo não levou em consideração as melhorias econômicas esperadas com a melhoria das características de fertilidade e saúde no verão.

Com base nos resultados profissionais descritos acima, é esperado um aumento na renda anual por vaca de US $ 235 a US $ 470.000, para uma fazenda de gado leiteiro com 3.000 vacas.

Nesse caso, o investimento no resfriamento das vacas pode ser devolvido ao final do primeiro ano de operação e, desde então, a receita anual da fazenda pode aumentar em US$ 500.000 a cada ano, sendo este investimento um dos melhores que um produtor de leite localizado na região quente pode fazer.

ISRAEL FLAMENBAUM

Especialista no estudo do estresse térmico em vacas leiteiras, professor na Hebrew University of Jerusalém, tem ministrado cursos e treinamentos sobre o assunto em diversos países.

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