Apenas pouquíssimos produtores no mundo conseguem resfriar adequadamente suas vacas nos dias de hoje

Apenas pouquíssimos produtores no mundo conseguem resfriar adequadamente suas vacas nos dias de hoje

23/03/2020 Uncategorized 0

Quais são as principais consequências do estresse calórico?

“Quanto à produção de leite, existem diferentes fatores, não apenas volume, mas também teor de gordura, proteína no leite e qualidade; isto é, a contagem de células somáticas aumenta quando a vaca está em uma condição de estresse. O estresse calórico também afeta a fertilidade e o efeito é um aumento dos dias abertos acima do recomendado ou planejado. Isso acontece por dois motivos principais. Primeiro, o estresse calórico reduz a manifestação de ‘cio’ nas vacas e algumas inseminações são perdidas em alguns animais devido ao estresse durante o processo. Em segundo lugar, o estresse calórico reduz a taxa de concepção e ambos os fatores, juntos, estendem o intervalo entre partos acima do nível ótimo”.

Quais são os principais sinais de estresse calórico?

“Existem vários. A vaca come menos, bebe mais água, fica menos ativa e procura locais úmidos para tentar se refrescar. A luta com o estresse calórico pode ser notada em um aumento do ritmo respiratório e respiração ofegante como mecanismos para dissipar o calor. Normalmente, uma vaca de alta produção não consegue dissipar sozinha o calor que gera, portanto o calor corporal aumenta e esse é um dos parâmetros que usamos. Quando surge, sabemos que a vaca está sofrendo de estresse por calor e os danos começam: diminuição na produção de leite, que é causada principalmente pela menor ingestão de alimentos da vaca, depois também a redução no teor de gordura, proteínas etc. A vaca rumina menos, tende a ficar parada para perder calor, não descansa, e quando tem que ser inseminada, não emprenha”.

Que conselho você pode dar para prevenção e tratamento?

“Primeiro de tudo, a maior parte do nosso trabalho é preventiva. Nós tentamos dar as melhores condições para a vaca. Bastante sombra, espaço suficiente por vaca, procuramos que as instalações sejam bem arejadas com ventilação natural. Damos a elas espaço suficiente nos bebedouros e alimentos frescos durante o dia.

Fazemos tudo isso para evitar o estresse calórico, mas tudo o que mencionei não impede o estresse calórico quando o tempo está muito quente. A razão é que a vaca gera grande quantidade de calor, 900 watts para mantença, mais 100 watts por cada 4,5 litros que produz. Uma vaca que produz 45 litros de leite gera 1.900 watts.

É por isso que a vaca não tem chance de dissipar esse calor, sendo uma grande produtora, porque não é algo que a natureza tenha projetado para isso.O animal não consegue dissipar todo o calor que gera em condições climáticas quentes. Se não fizermos nada, a vaca diminui o seu metabolismo, diminui a ingestão de alimentos e cairá para o nível de produção que permite dissipar o calor gerado, que é em torno de 10 litros de leite, mas que não é o que esperamos que a vaca produza.

Se queremos altos níveis de produção de leite que correspondam ao potencial genético de uma vaca holandesa, temos que resfriar a vaca, fornecer alimento, água e sombra, e fazemos isso através de sistemas de refrigeração que ajudam o animal a perder muito calor.

Em relação aos sistemas de refrigeração, existem dois básicos. O primeiro, que chamamos de resfriamento direto, usa ventiladores, tecidos e, mais do que tudo, a combinação de banhos com ventilação forçada. O outro, o resfriamento indireto, é mais usado em climas secos com gotas de água vaporizada dentro de instalações fechadas, e a evaporação da água reduz a temperatura dentro do local. Estes são sistemas para zonas desérticas mas não funcionam tão eficientemente em zonas úmidas. A maioria dos projetos em que estou trabalhando estão em zonas relativamente úmidas, então o sistema de resfriamento direto é o que uso mais no meu trabalho”.

Quais são as condições para aplicar o resfriamento direto e quanto dele é automático?

“A vaca gera calor o dia todo, portanto o tratamento deve ser contínuo, todos os dias. Tem que ser frequente para que a temperatura do corpo da vaca diminua ao normal e permaneça fresca. A combinação de água e ventilação é automática, funciona com temporizadores, mas a parte humana é levar as vacas para o tratamento, várias vezes durante o dia, e para isso não há automatização, fazemos com pessoal contratado. Em diferentes galpões, e isso faz parte da profissão, você precisa decidir que tipo de locais de resfriamento usar e em que condições, mas, regularmente, temos três locais principais para resfriá-las.

Uma é o curral de retenção, onde as vacas são recolhidas para serem ordenhadas, e nós a usamos para resfriá-las. Às vezes não é suficiente o tempo que lhes damos neste local devido à rapidez do processo de ordenha, de forma que para estendermos o tempo de resfriamento, construímos túneis especiais na entrada e na saída.

Se ordenharmos a vaca três vezes ao dia, isso significa que a resfriamos a cada 8 horas, mas uma vaca de alta produção precisa ser resfriada a cada 4 horas. Para poder fazer isso, temos que lhes dar tratamento entre cada ordenha, o que pode ser feito em túneis entre baias para minimizar a distância que a vaca teria que se mover ou nos currais de alimentação, quando é possível resfriá-las enquanto estão comendo. A decisão de onde e como fazer é tomada em cada unidade de produção de acordo com as condições específicas da mesma”.

Você pesquisou a relação verão:inverno. Qual seria uma boa relação?

“Aproveito os três meses mais quentes do ano e os três mais frios para fazer isso, levando em conta a produção média da vaca nesses períodos. Em fazendas bem sucedidas, essa proporção é de até 95, 96 até 98%. Nos galpões que estão falhando ou não resfriando o suficiente as vacas, a proporção pode cair para 80% no verão. Casos extremos têm mostrado 70%, então a perda sobe para 30 nesses casos. E também fui a lugares muito quentes do mundo, como o sudeste da Ásia, o Vietnã, a Tailândia, o sul da China e até a América Central, com vacas europeias, onde até já vi uma proporção de 50%”.

Você acha que há uma melhora notável no resfriamento em todo o mundo?

“Eu acho que apenas em uma pequena parte dos países onde há uma atividade intensiva de gado leiteiro, com raças puras e especializadas, consegue fazê-lo. Então eu acredito que há muito a ser feito com essa questão, que é relativamente nova. Onde quer que eu vá, as pessoas tentam resfriar as vacas, mas muito poucas fazendas fazem isso, porque o esquema não é bem feito ou a propriedade não cumpre os requisitos.

Também precisamos lembrar que, embora o que fazemos seja tentar ajudar a vaca, seu bem-estar e saúde, isso é um negócio e as pessoas têm que ganhar a vida com isso, então o aspecto econômico é importante. Em cada projeto em que estou envolvido, temos que calcular custos e benefícios. Temos que considerar o potencial econômico de vacas resfriadas e considero o investimento mais lucrativo para um produtor em clima quente. Na maioria dos casos, o lucro líquido por vaca por ano é dobrado. Isso ajuda a aumentar os lucros. O retorno sobre o investimento pode ser total em dois anos e há casos de apenas um ano”.

Fonte: https://www.milkpoint.com.br/colunas/cowcooling/apenas-pouquissimos-produtores-no-mundo-conseguem-resfriar-adequadamente-suas-vacas-nos-dias-de-hoje-215104/

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